sexta-feira, 14 de dezembro de 2007


Histórico da charrete da família Hess

Não há registros oficiais escritos que remetam à charrete de época, a qual se encontra, atualmente, sob os domínios da Prefeitura Municipal de Passa Quatro. Existem pequenas notas do escritor e historiador Pedro Mossri, sendo que este homem concedeu uma entrevista relativa à cidade, através da qual se coletaram informações importantes sobre esse meio de transporte.
Acrescentando alguns detalhes sobre essa conversa com Mossri, a mesma foi realizada no início do ano de 2003; nossos escritos sobre a charrete se basearão em um depoimento oral de uma pessoa que viveu intensamente a história de Passa Quatro. Mesmo se tratando de uma memória particular – cujos mecanismos de seleção são por demais evidentes – consideramos essas falas como importantes fragmentos dos passados, os quais se conjugam dinamicamente com o tempo presente, sob a forma da recordação. Em suma, testemunhos de um homem que viveu intensamente a multiplicidade da vida passaquatrense...
A carruagem foi construída no Estado de São Paulo por volta da década de 20. Não se pode apontar com precisão qual foi o fabricante da mesma, visto que o "rótulo marrom" - assim denominado por Pedro Mossri - não se encontra mais na charrete. Provavelmente esse veículo tenha sido uma encomenda da família Hess, cuja propriedade rural levava o nome de Fazenda do Sobrado.
Com relação a essas terras, cabe mencionar o destaque ocupado pela fazenda na Passa Quatro do início do século XX. Ali funcionava o Laticínio Nova Suíça Ltda, bem como uma representação de maquinário agrícola, gozando de boa credibilidade junto à população. Ademais, interessante citar que no ano de 1912, devido à ocorrência de um eclipse de grande repercussão, a sede dos Hess serviu como instalação para as missões científicas brasileiras e estrangeiras. Nesse mesmo evento vieram para o município o então presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca e seu vice, Wenceslau Braz.
Retornando às rememorações da charrete, Pedro Mossri afirma que ela servia para transportar familiares, conhecidos e pessoas ligadas à Fazenda do Sobrado. Muitas vezes o trajeto da carruagem consistia em uma passagem pelas vias de terra da cidade, tendo como destino final a estação ferroviária - para buscar próximos dos Hess que vinham passar as férias em Passa Quatro, por exemplo. Por ser diferente das demais, a carruagem despertava bastante atenção dos transeuntes, não deixando de ser um símbolo de "status" dos seus ocupantes. O calçamento das vias do município, aliado a alguns decretos que proibiam o tráfego de veículos sem o pneu sintético, foram decisivos para a retirada de circulação desse meio de locomoção.
O engenheiro Maurício Hess doou o veículo à Prefeitura de Passa Quatro em data não especificada; chegou a ser recuperada e guardada em um local adequado com vistas à boa conservação. A carruagem foi ainda emprestada para a produção de um filme nacional e, segundo Pedro Mossri, houve nesse período uma considerável descaracterização: "O diretor desse filme mandou pintá-la de branca, inclusive sua lona, nova em folha, deitando por terra a recuperação." Ainda tendo o escritor como fonte principal, o mesmo afirmou que em certa administração a carruagem foi removida para um abrigo impróprio, sendo praticamente abandonada.
Carruagem para alguns... Para outros, simplesmente charrete... Não importa a terminologia utilizada! Ambas traduzem muito bem a simbologia que esse meio de transporte enveredou pelos caminhos da jovem Passa Quatro. Trilhas essas que nos contam hoje um pouco da história de uma cidade que ainda busca valorizar aquilo que já integrou seu presente. Enfim, o vivido (re)construído a partir de um significativo meio de transporte, o qual ainda resiste à ação do tempo.