terça-feira, 17 de junho de 2008

Osvaldo da Costa (Osvaldão)


O Conselho de Patrimônio Histórico de Passa Quatro M.G. convida para o lançamento do livro " O Gigante da Guerrilha - Osvaldão e a saga do Araguaia" escrito por Bernardo Joffily, no dia 05 de julho de 2008 às 20 horas na Casa da Cultura, rua Cabo Deodato, nº 20, centro, Passa Quatro, Minas Gerais.


Osvaldão--
Militante do PCdoB.
Apelidos: Osvaldão, Mineirão.

Cor: negra.

Altura: 198 cm.

Idade: 36 anos.

sexo: masc.

Peso: 100 Kg.

Cabelo: preto/crespo.

Barba: preta/cerrada Bigode.

Sapato: 48.

Data e local de nascimento: 27/04/38, Passa Quatro/MG.

Biografia


"Negro, forte, com quase dois metros de altura, era uma figura inconfundível. No entanto, seu físico contrastava com sua meiguice e afetividade. Membro do Partido Comunista, foi obrigado a viver na clandestinidade desde o golpe de 1964. Antes porém, fora estudante da Escola Técnica Nacional do Rio de Janeiro; campeão carioca de box pelo Botafogo, oficial da reserva do CPOR e cursou até o 3º ano de Engenharia de Minas, em Praga, na Checoslováquia, onde viveu alguns anos. Era natural de Minas Gerais.Foi dos primeiros a chegar à região do Araguaia-Tocantins, por volta de 1966/67. Entrou na mata como garimpeiro e mariscador. Era o maior conhecedor de toda a área, tanto da guerrilha como das áreas circunvizinhas. No ano de 1969, fixou sua residência às margens do rio Gameleira, onde mais tarde se juntaram outros companheiros. Era muito querido e respeitado tanto pela população como pelos companheiros.Conta-se a seu respeito inúmeras histórias como a de que, estando de passagem em casa de uma família camponesa, encontrou a mulher desesperada por que não tinha dinheiro para comprar comida para os filhos. Era uma casa pobre. Não tinham nada. Osvaldo perguntou-lhe se queria vender-lhe o cachorro. A mulher, sem outra alternativa, disse que sim. Tanto ela como Osvaldo sabiam o que significava a perda do cão: mais fome, pois na região, sem cachorro e arma é difícil conseguir caça. Osvaldão pagou-lhe o preço do cão e, a seguir, disse-lhe: guarde-o para mim que eu não poderei levá-lo agora para casa.Sobre Osvaldão surgiram inúmeras lendas: sobre sua bondade, sua força, sua coragem e também sobre sua pontaria. Foi Comandante do Destacamento B, onde participou exitosamente de vários combates. Foi, ao lado de Dina, o mais conhecido combatente entre a população do Araguaia.Estava entre os combatentes que foram atacados por grande contingente das Forças Armadas em 25/12/73. Está desaparecido desde meados de 1974."Citado em várias reportangens como comandante do Destacamento do Gameleira."Um grileiro foi ameaçar tirar a terra de Osvaldão e acordou, na sua casa, com o cano de um 38 cutucando seu rosto e a ordem, dada por "um negrão de quase dois metros de altura e com dois braços que pareciam duas pernas", segundo descrição dos que o conheceram: em vez de você ficar com minha terra, você dá a sua a uma família muito necessitada. A família já está aí, esperando. Vou lhe levar até a rodoviária e você não aparece mais aqui, senão morre. E se achar ruim morre agora que fica mais fácil ...O grileiro saiu com a surpresa de encontrar os novos proprietários e mais de 30 pessoas das redondezas que aplaudiam a atitude de seu Osvaldão, homem justo."
Homenagens
Nome da antiga Rua R, no Bairro Braúnas em Belo Horizonte - Dec. N.º 6392 - 16/09/93 (Rua Viva - Homenagem aos mortos e desaparecidos políticos mineiros - paag. 54).
Nome da antiga Rua 01, no Residencial Cosmo, em Campinas, com início na antiga Avenida 03 Cid. Sat. Íris e término na Divisa Equip. Púb. Urbano SANASA - Lei nº 9497, de 20/11/97.
Dados referentes a prisão, morte e/ou desaparecimento:Citado no Manifesto dos familiares dos mortos e dasaparecidos na guerrilha do Araguaia, no II Congresso Nacional Pela Anistia, novembro/79 - Salvador/BA, publicado no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro de 11/04/80, ano VI, nº 69, parte II.Citado na Relação de pessoas dadas como mortas e/ou desaparecidas devido às suas atividades políticas, da Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária da Ordem dos Advogados do Brasil - seção do Estado do Rio de Janeiro - outubro de 1982"
Relatório Arroyo
"Os grupos eram cinco. Um chefiado por Osvaldo (que retornou a sua área); outro por J.; outro pelo João; outro pelo Nelito; e o outro pelo Landim. (...)Dia 30 pela manhã (30/12/73), os cinco grupos tomaram seus destinos. Às 15 horas ouviu-se ruído de metralhadora no rumo em que havia seguido Osvaldo ou Landim. Não se sabe o que houve."Relatório do Ministério Exército: Sem filiação, nascido no dia 27 Abr. 38, em Passa Quatro/MG.Oficial R/2 Engenharia e militante do PCdoB, utilizava o codinome "Osvaldão", tendo realizado o curso de guerrilha na Escola Militar de Pequim/China. Foi um dos principais líderes da guerrilha do Araguaia, tendo inclusive, mandado executar o guerrilheiro Pedro Ferreira da Silva ("Pedro Mineiro") [não se trata de guerrilheiro e sim de informamnte da repressão, conforme xerox de doc. militares ], em 12 Mar 73. Relatório do Ministério da Marinha: Nov. 74 - relacionado entre os que estiveram ligados à tentativa de implantação de guerrilha rural, levada a efeito pelo comitê central do PCdoB, em Xambioá.- Morto em 07 Fev. 74.Relatório do Ministério da Aeronáutica: guerrilheiro do PCdoB no Araguaia, conhecido como "Osvaldão". Engenheiro e Of. da Reserva do Exército (CPOR). Dado como morto ou desaparecido no Araguaia por um Manifesto divulgado quando do II Congresso Nacional pela Anistia, realizado em Nov. 79, em Salvador/BA.Segundo o atual Dep.Fed. José Genoino (ex-guerrilheiro do Araguaia), Osvaldo Orlando da Costa está morto, pois viu uma foto de seu corpo "após capturado pela repressão". (Folha de São Paulo 26 Jun. 78).Uma série de reportagens publicadas pela imprensa dão conta que Osvaldo Orlando da Costa morreu no Araguaia. Neste órgão, não há dados que comprovem essa versão.Arquivos do DOPS/SP:Informações e depoimentos obtidos através da imprensa ou dos familiares:"Osvaldão morreu ali no Saranzal. Foi pegar comida e o Piauí deu um tiro nas costas dele. Era preto mesmo. Vi morto lá no São Raimundo, hericópiro levou ele." [Depoimento de um índio Surui]. "A Dina - diz que ela era baiana, - foi pegada lá em Marabá: ia atravessar pro São Félix, mataram ela. O Osvaldão morreu sozinho - foi ali: nós vimos lá no São Raimundo [uma das pequenas bases de apoio do Exército dentro do mato], morto, pendurado pela corda no hericópire, por corda. Rapaz, ele era fogo mesmo - muito preto. Roupa dele não presta não, tudo rasgado.Enterraram todos no São Raimundo, mas já vieram buscar os ossos." 149 [Depoimento de um índio Surui]."- E o Osvaldão?- Eu mesmo não conheci, mas meu irmão conhecia, bebia cerveja com ele e tudo mais, em Araguatins.- E quando ele foi morto, tava acompanhado de mais gente?- Tava, tava ... Ele andava sempre com mais gente. Nesse dia foi pego ele e mais dois. Ele nem atirou em ninguém. Quando eles assustaram o Exército já tava baleando eles. O Exército tava de tocaia e baleou os três direto. Tinha mais junto, mas conseguiram escapar. Quem atirou nele primeiro foi um guia chamado Arlindo, que mora na OP-2. ..."Levado morto para a base militar de Xambioá. Seu corpo foi mutilado por chutes, pedradas e pauladas dadas pelos militares e finalmente queimado e jogado no "buraco do Vietnã" - depoimento de moradores a Comissão de Familiares que estiveram em Xambioá em 29/04/91.Morto por pistoleiro, perto de São Geraldo; seu corpo foi pendurado por cordas em um helicóptero e transportado até a base militar de Xambioá.6"- Tava muito perigoso, muito atacada. A minha turma mesmo não chegou a ser atacada, mas aqui e acolá a gente tava escutando tiroteio. Até o dia que pegaram o Osvaldão. Eu não vi na hora mas ouvi o tiroteio. Foi aqui na fazenda Consolação, que fica aqui atrás, a 21 quilômetros abaixo do Brejo Grande.- Que dia foi isso?- O dia não me recordo, mas foi logo depois da Semana Santa de 74 - maio, talvez junho. Depois do Osvaldão, eles pegaram muita gente. Me lembro de uma mulher que eles pegaram aqui perto, de nome Mariadina."[Depoimento de Adão Venâncio]."...foi muito fácil para um dos filhos da família Piauí, uma das mais antigas de São Domingos, lugarejo ali perto, aproximar-se do comandante guerrilheiro naquele campo de milho. O jovem Piauí conhecia bem Osvaldão e melhor ainda o Exército.Um cumprimento em voz alta e o negro responde com um aceno, não dá importância, já perdeu os reflexos. Logo depois é alvejado por tiros de espingarda. ...O pequeno Piauí vai receber o dinheiro que os oficiais aquartelados em São Domingos, como em toda a região, lhe promenteram. Toma um susto: as notas (ninguém sabe o quanto) lhe são oferecidas e, quando ele vai apanhá-las, recolhidas. O rapaz é humilhado: "Ajoelhe-se e peça pelo amor de Deus", dizem alguns oficiais. E com muito custo, diante dos olhares significativos dos militares, apanha seu prêmio. O corpo de Osvaldão é amarrado ao esqui de um helicóptero e desfilado por São Domingos e outros lugarejos do Araguaia.""... o comandante Osvaldão é morto a traição num campo de milho próximo ao lugarejo de São Domingos. Estava doente, magro, sem ânimo. Não foi difícil matá-lo.""O Osvaldão achava que devia evitar o máximo de contato possível ... Ele dizia que, se houvesse contato, então era prá valer, mas o tempo todo ele procurava se resguardar e desmoralizar ao máximo a tropa do governo com a guerra psicológica. ... Muito mais [inteligente] , ele estava em inferioridade e então atacava com a arma moral que dava mais lenha no pessoal." "Vi cortar a cabeça do Osvaldão. O sargento pegou a faca, lubrificou a faca e disse: "é bandido, tu agora não mia mais (...)". Ai pegou a faca, pegou a cabeça dele, botou um pau em baixo e foi cortando. Foi cortando, cortando, cortando. E eu não tive coragem de olhar até ele terminar. Na hora que ele cortava eu não agüentei e afastei pra trás. Aí o sargento me empurrou pra frente e disse: "tu tá punindo (torcendo) por ele? Se tu não aguenta, tu tá punindo por ele. Tu é mesmo terrorista". Aí me empurrou e eu caí no pau. Aí o sargento disse: "De hoje em diante se tu chegar com a FAL cheia de bala na repartição onde nós vamos te encaminhar, você vai seguir o mesmo caminho que eles estão seguindo. Você está punindo por eles. Você não dá nenhum tiro". Fazia 20 dias que a gente andava, e eu não tinha dado nenhum tiro. Aí deram fé (notaram). Disseram que ia seguir o mesmo caminho deles, que iam me cortar a cabeça. Me fizeram medo, né?[O corpo] ficou lá no lugar que mataram ele, na beira da lagoa. Enterraram não. Largaram no meio da mata. Todos que morrem, papa-mickey, eles deixam no meio da mata. E não é de todos que eles tiravam a cabeça, não. Só daqueles mais afamados. Agora, não sei nem pra quê, nem porquê...."Que eu vi de vista, eles cortaram a cabeça do Osvaldão, do Joaquinzão e do Dr. Paulo, que era desses papa-mickey também. Teve outras que eles cortaram mas que eu não vi. Eu não conto porque eu não vi. Esses eu vi.""Vitória Lavínia Grabois descreveu a viagem: ... Na Palestina, a população estava muito temerosa.(...)Um jovem que não quis se identificar narrou a guerra. Disse que houve muito tiro. Os helicópteros sobrevoavam a área com muita intensidade. Devido ao fogo intenso, os moradores fizeram buracos nas paredes, que conservam até hoje, pois o Exército divulga na região que haverá outra guerra. Através de fotografias, identificou José Huberto Bronca, o Fogoió, um dos guerrilheiros e informou que Osvaldão foi morto em 73, no "Saranzal". Que primeiro o levaram para a Bacaba e depois para Xambioá.""Várias pessoas afirmaram que Osvaldo Orlando da Costa teve sua cabeça exposta na localidade de Brejo Grande e que depois levaram-na para a base militar de Xambioá. Outros afirmam que, apesar de Osvaldo ter sido levado para Xambioá, seu corpo foi enterrado na base de São Geraldo. ...""O último comandante guerrilheiro a ser morto foi Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão, mais temido e procurado dos militantes comunistas. Foi morto em abril de 1974. Ele topou de frente com uma patrulha do Exército. Levou o primeiro tiro de espingarda calibre 22 disparado por Mineiro, um mateiro - como eram conhecidos os guias recrutados pelo Exército. Caído, baleado na barriga, Osvaldão foi fuzilado pelos soldados. Seu corpo foi embrulhado em saco de lona e içado por um helicóptero. Segundo relato de um dos participantes da patrulha, a corda se rompeu no ar, a uma altura de 10 metros e, na queda, o corpo teve o tornozelo esquerdo fraturado. Como os outros combatentes mortos, Osvaldão foi enterrado em cemitério clandestino na própria região. (...)""Segundo o coronel, Osvaldão foi fuzilado junto com dois moradores da área, na primeira ação de uma das patrulhas militares, em outubro de 1973 [A data é falsa.]. Duas horas depois, um helicóptero pairou acima das árvores para resgatar o corpo de Osvaldão, crivado de balas no peito e no abdomem. Ao ser içado, o corpo de 2 metros de altura escorregou por dentro do colete preso à corda e se estatelou no chão. Só na segunda tentativa, com os braços amarrados ao tronco Osvaldão foi retirado da mata.""Napoleão Sabino de Oliveira ... ex-sargento da Aeronáutica ... Ex-mecânico de vôo do Douglas prefixo 2502 da FAB, um avião de passageiros modificado para facilitar o transporte de tropas, ...Durante os anos em que permaneceu na Aeronáutica, Napoleão ouviu muitas histórias sobre mortes, relatadas por companheiros de farda. "Falavam até em assassinatos de camponeses", ...Napoleão acredita que ainda há corpos enterrados nas proximidades da pista de Xambioá. "Do lado esquerdo de onde nós decolávamos", localiza. Um deles pode ser o de um guerrilheiro que o impressionou. "Era um rapaz negro, forte e muito inteligente". O ex-sargento soube de sua morte, quando o reconheceu numa foto. "Ele foi fuzilado", assegura.""Quatro deles ficaram tatuados na memória popular. Paulo Rodrigues, um economista gaúcho, transformado em mascate, jogava pelada com a molecada. ...Osvaldão, - o ex-oficial da reserva e ex-campeão de box Osvaldo Orlando da Costa - era um negro sorridente de quase dois metros. "Ele vestia uma camisa de seda cor-de-rosa quando comparecia aos bailes", recorda a professora Elia da Costa. Juca, alto e magro como um galã estrangeiro, falava manso e adquiriu fama de bom parteiro, porque, na realidade, era o médico João Carlos Haas Sobrinho. E havia também Dina - a geóloga Dinalva Oliveira Teixeira - uma versão local da cangaceira Maria Bonita.""Quem quiser distância do barqueiro Antônio Vieira, o Zezinho, basta procunciar uma palavra mágica: Osvaldão. (... ) O guerrilheiro lendário é apontado por metade da cidade como seu pai. O rapaz não nega nem confirma, apenas se afasta contrariado. Um velho barqueiro, amigo seu - Edson Costa - explica: "Ele perdeu a mãe naquela época e o irmão foi levado pelos militares". Maria, a mãe, era uma formosa mulata, dona de um restaurante em Xambioá, nos anos 70. Osvaldão era fã dos quitutes de Maria e assíduo freqüentador da sua casa. Ninguém, nem o próprio Zezinho sabe informar a causa de morte de Maria, logo depois do sumiço do filho mais moço, Giovani, de apenas quatro anos. Zezinho era um ano mais velho e, na ocasião, já morava com os pais adotivos. "Acho que foi isso que me salvou", deixa escapar. O barqueiro garante que o menino foi levado por militares e nunca mais ninguém teve notícias dele.Aos 28 anos o barqueiro lembra bastante a figura gigantesca e sorridente de Osvaldão, garante quem conheceu o guerrilheiro. É menor e mais reservado, porém. "Minha mãe nunca disse quem era meu pai", desconversa. Admite, porém, lembrar que Osvaldão freqüentava o restaurante de Maria.""Osvaldão foi morto por um guia, Arlindo Piauí, falecido há poucos anos, depois içado numa corda e transportado de helicóptero até Xambioá, tendo seu corpo exibido para a população.""Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão - apontado como o maior quadro militar da guerrilha e identificado no dossiê do Exército obtido pelo Globo como integrante da Comissão Militar e comandante do destacamento B - dez anos antes tinha feito sucesso em Praga, na antiga Tchecoslováquia, onde se formou em engenharia de máquinas. Em sua homenagem, o escritor tcheco Cytrian Ekwensi escreveu, em 1962, o livro "O homem que parou a cidade" ("Lidé z mesta"). O guerrilheiro só contou esse segredo, em 1963, à sua irmã Irene Orlando, hoje com 75 anos, que recebeu, com uma dedicatória, um exemplar do livro. (...)A popularidade de Osvaldão, segundo o livro, devia-se a seu carisma e principalmente a sua aparência física, que acabou despertando a atenção dos moradores de Praga. Ele era um negro de 1,98 metro de altura, que calçava 46. Essa popularidade é confirmada pela professora do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp, Sandra Negraes Brisolla, que conheceu o guerrilheiro em Praga. No dia 6 de setembro de 1995, ela escreveu um artigo no jornal "Correio Popular", de Campinas, no qual fala do militante do PCdoB."Osvaldão era um líder. Aliava um bom humor contagiante com uma bondade infinita. Andava permanentemente rodeado de jovens estudantes e participou da organização de um dos centros acadêmicos da Universidade de Praga"- disse Sandra.Para dar um exemplo da curiosidade que Osvaldão despertava, ela lembrou algo que lhe dissera o próprio guerrilheiro.- "Quando cheguei em Praga, os meninos passavam saliva no dedo e esfregavam meu braço, para ver se a cor da minha pele saía. Nunca tinham visto um negro - contou.Sandra disse também que era grande o sucesso do guerrilheiro entre as mulheres.- Ele era bonito, chegou até a participar de filmes na Tchecoslováquia. Uma vez, foi a uma festa e fez o maior sucesso. Um dos presentes chegou a dizer: "Vou embora. As tchecas estão a fim de negros e não de brancos."Sandra lembrou que Osvaldão ficou ainda mais famoso ao namorar uma loura que tinha quase a sua altura. O namoro aconteceu quando o guerrilheiro preparava a sua volta ao Brasil e a tcheca queria acompanhá-lo.- Aí ele me disse: Sandrinha você acha que vou poder passear com uma lourona dessas em Copacabana? Vou ser linchado....era o guerrilheiro mal-trapilho que foi abatido em 1974 com vários tiros de espingarda num milharal perto de São Domingos pelo "bate-pau" (capanga que ajudava o Exército) maranhense Arlindo Vieira, o Piauí.Eram quase quatro horas de uma tarde de março de 74. Chovia fino e o guerrilheiro comia um pedaço de milho. Piauí chamou Osvaldão, que abriu o milharal com as mãos e mostrou a cabeça, mas só conseguiu enxergar que não estava diante de um militar. Nervoso e tremendo, Piauí liqüidou Osvaldão com três tiros. Depois de morto, o líder guerrilheiro foi ainda alvo de vários tiros de um sargento. Essa descrição, o ex-guia do Exército José Veloso de Andrade, de 68 anos, que mora no Brejo Grande, disse ter ouvido do próprio Arlindo Piauí, de quem era compadre.- O Exército mandou o Arlindo ir na frente, porque havia a lenda, até mesmo entre oficiais, de que militares não conseguiriam chegar perto dele - disse.Segundo Dilma Bezerra, sobrinha de Piauí, ele morreu na miséria em 1993, em Marabá, vítima de problemas cardíacos. O Exército lhe prometera casa na cidade, dinheiro e proteção. Mas pelo assassinato de Osvaldão recebeu apenas um lote na mata fechada, que teve de vender por não ter dinheiro para pagar a escritura.Piauí passou o resto de sua vida escondido pelo Exército, para que não desse informações sobre a repressão à guerrilha.O corpo de Osvaldão foi içado por um helicóptero do Exército, mas caiu. Amarrado novamente, foi levado para São Domingos e depois para Xambioá. A cabeça do guerrilheiro foi decepada para ser exibida à população.- Eu vi essa cena. Um oficial gritava aos moradores: cadê o homem imortal? - contou Joaquina Pereira da Silva, moradora da região até hoje.(...)- Todo mundo acreditava que ele virava mosquito ou toco de árvore quando o Exército chegava. Por isso, seria imortal - disse Lauro Rodrigues dos Santos, morador em São Geraldo.Osvaldão aproveitava a fama para aterrorizar os soldados, enviando-lhes bilhetinhos. Segundo o ex-soldado Domingos Serafim de Souza, nos bilhetes Osvaldão - que fez curso de guerrilha na China - avisava que só mataria oficiais. Além disso, dava, com exatidão, as últimas notícias dos acampamentos militares.- Acho que ele tinha algum espião, ou se escondia atrás dos acampamentos para escutar - contou o soldado, que diz também que para causar pânico entre os militares, o guerrilheiro se escondia perto dos acampamentos e gritava o nome dos oficiais com voz cavernosa.(...)Desde 1966, quando se instalou no castanhal da Gameleira - onde trabalhava na roça, garimpava e vendia tecidos - Osvaldão construiu a imagem de homem respeitador, de bom coração, forte e justo.- Os homens acreditavam tanto nele que, às vezes, quando iam trabalhar pediam para que tomasse conta de suas mulheres - contou Pedro de Barros, morador do povoado de Santa Cruz.A popularidade do guerrilheiro era grande entre as crianças.- Ele chamava a gente pra pescar e dava dinheiro pra todos. E gostava de contar histórias - lembra Cícero Moraes da Silva.Talvez numa tentativa de manter o mito, parte da população de Xambioá garante que o guerrilheiro deixou três herdeiros: o marceneiro Silmar Alves Rodriguez, o barqueiro Antônio Vieira e um terceiro que teria sido levado pelos militares. O barqueiro passa os dias tentando esquecer o passado. Não quer nem ouvir falar no nome Osvaldão.- Ele sofreu muito depois que levaram o seu irmão - justifica o amigo Edson Costa Soares. (...)Já a mãe de Silmar, a prostituta Iraci Vieira, segundo moradores de Xambioá morreu no parto do filho. Dona de um prostíbulo freqüentado por oficiais do Exército, Iraci, apelidada de Baleia, teria tido um caso com o guerrilheiro. Silmar cresceu ouvindo essa história. Quando era pequeno, chegou a ser discriminado pelos amigos, que o chamavam de filho de terrorista. Apesar disso, ao contrário de Vieira, gostaria de ser reconhecido oficialmetne como filho de Osvaldão. (...)Ela [Irene, irmã de Osvaldão] conta que, quando tinha 10 anos de idade, Osvaldão impressionou os padres do colégio em Passa Quatro, em Minas Gerais, ao fazer uma redação em que propunha uma revolução dos anjos contra São Pedro no céu. (...)Aos 16 anos, Osvaldão foi morar em São Paulo como os irmãos e logo se destacou na Escola Técnica como líder estudantil. Depois, se transferiu para a Escola Técnica Nacional no Rio, onde foi campeão amador de boxe e de arremesso de dardo. Ingressou no CPOR, onde também se destacou até o início da década de 60. Depois recebeu uma bolsa e foi estudar na Tchecoslováquia. Ao retornar ao país, entrou para o PCdoB e logo foi para o Araguaia sem nunca ter avisado à família.""Quando esteve na base militar de Xambioá para se tratar de uma malária que tinha contraído, Vanu soube por oficiais e outros guias que o corpo de Osvaldo Orlando Costa, o Osvaldão, um dos líderes da guerrilha, fora enterrado na cabeceira da pista da base num lugar conhecido como Buraco do Vietnan. A informação confirmada por Joaquina Pereira, de 73 anos, moradora de Xambioá, que diz ter visto o sepultamento do guerrilheiro.- Consegui furar o cerco para assistir ao sepultamento, porque gostava muito do Osvaldão. O corpo dele estava separado da cabeça e foi enterrado na cabeceira da pista - contou ela.""Segundo moradores de Xambioá, pelo menos oito corpos de guerrilheiros estão no cemitério da cidade. Eles apontam ainda um cemitério clandestino, próximo à pista do aereoporto, onde teria sido enterrado o guerrilheiro Osvaldo Orlando da Costa."Morto pelo filho do Piauí, Arlindo Piauí [Arlindo Vieira], que o matou por dinheiro. Arlindo morava na OP-2, acima da Metade, agora está morando em Rio Bonito - depoimento de Maria Raimunda da Rocha Veloso a Criméia, em 1991."... que conheceu "Osvaldão", indivíduo moreno escuro que usava uma arma calibre quarenta e cinco, que era do Rio de Janeiro e possivelmente primeiro-sargento do Exército; que "Osvaldão" foi morto por "Arlindo Piauí", pertencente a uma família local por sobrenome "Piauí", moradora nas proximidades da Vila Metade...""Infiltrado como administrador-adjunto do INCRA em Xambioá, com o falso nome de doutor Luís, Curió reuniu os agentes do CIE para explicar as táticas a serem adotadas durante a espionagem, que teve início em 13 de maio de 73. "Todos deverão lembrar-se de que estão numa missão de informação, e não de operações. Se algum subversivo entrar em contato com o agente infiltrado, deve agir como um elemento da região", recomendava. Essa regra tinha uma exceção: Osvaldo Orlando. "Abre-se exceção para o Osvaldão, que deverá ser atacado em qualquer situação, mas somente quando a possibilidade de êxito não deixar dúvidas", diz ainda o relatório.""Quanto ao comando, há problemas. O comandante, Osvaldo Orlando, o Osvaldão, é um bom militar e valente, mas tem pouca confiança em seus comandados e revela espírito defensivo. Mas cumpre satisfatoriamente sua tarefa."Morto com um tiro de espingarda cartucho 16 disparado por Arlindo Piauí - depoimento de Expedito Pinheiro de Castro, residente a Folha 29, quadra 8, lote 14 - Nova Marabá, em 24/01/93, a Criméia Almeida. Ele era soldado da PM/PA à época e confirma o restante da história de seu corpo ter sido içado por helicóptero.Depois de morto teve o pé amputado para ser mostrado ao comando em Brasília. (Depoimento de Elza Monerat à Comissão de Representação Externa do Congresso).O corpo de Osvaldão foi levado de Toyota para o acampamento de São Raimundo, depois levaram ele para os lados da OP3 - Bacaba ou Agrovila - depoimento de Luzinete, a Comissão de Familiares em julho/96."José Rufino Pinheiro, 82 anos, foi um dos que, depois de muita pancada, virou guia. Ele é testemunha das mortes dos guerrilheiros Osvaldão (Osvaldo Orlando da Costa) e Sônia. O mitológico Osvaldão, ex-atleta do Botafogo do Rio e o mais odiado pelo Exército por ter sido tenente da reserva, foi morto pelas costas com um tiro. Sônia caiu numa emboscada e foi metralhada nas pernas. Rufino conta que os militares ainda tentaram interrogá-la, mas ela não respondeu a nenhuma pergunta, sendo depois executada".102 "Sinvaldo de Sousa Gomes (...) que um ex-soldado do Exército conhecido por Raimundo Nonato, que guarnecia a base do Exército em Xambioá, presenciou o momento em que o guerrilheiro conhecido como Osvaldão foi sepultado, num local situado a 50 metros do Aeroporto de Xambioá, pelo lado da direita de frente para o nascente;(...)" "Sra. Margarida Ferreira Félix, (...) Arlindo Piauí, que matou Osvaldão, guerrilheiro, (...)"
"Sr. José Moraes Silva, (...)que oferecido para reconhecimento do declarante as fotografias dos desaparecidos políticos da Guerrilha do Araguaia, reconheceu Beto (Lúcio Petit da Silva), Zé Carlos (André Grabois), Landinho (Orlando Momente), Sônia (Lúcia Maria de Souza), Fátima (Helenira Rezende Nazareth), Tuca (Luiza Augusta Garlippe), João Araguaia (Dermeva; da S. Pereira), Rosa (Maria Célia Correa) e Osvaldão (Osvaldo Orlando da Costa)". "Sr. Lauro Rodrigues dos Santos, (...) que a partir do ano de 1970 começou a manter contatos com as pessoas conhecidas como guerrilheiras, a saber, Osvaldão (Osvaldo Orlando da Costa), Zé Carlos (André Grabois, Alice (Criméia Alice Schmidt), dona Maria (Elza Monnerat), Joca (Libero Jean Carlo Castiglia), Luis (Guilherme Gomes Lund), seu Mário (Maurício Grabois), Sônia (Lúcia Maria de Souza), Zezinho (Marcos José de Lima), Alandrino (Orlando Momente), Cid (João Amazonas), seu Beto (Lúcio Petit da Silva) e sua companheira Regina (Lúcia Regina de Souza Martins), Goiano (Divino Ferreira de Souza) (...)"."Sr. José Rufino Pinheiro, (...) que o declarante ficou por 06 meses e 16 dias ajudando o Exército na mata, guiando-os; que o batalhão que o declarante servia de guia era composto de 32 soldados; que nessa condição testemunhou a morte de Sônia e Osvaldão; que a morte de Sônia ocorreu perto da casa do finado Hilário, sogro do Peixinho, por volta de dez horas; que Sônia foi alvejada quando ia saindo da mata para a casa, sendo que quando o declarante a viu ela só mexia a cabeça; que não sabe qual o destino dado ao corpo de Sônia, pois seguiu em frente com o batalhão; que também presenciou a morte de Osvaldão, na capoeira do Pedro Loca, junto da Palestina; que Osvaldão foi morto, por volta de 4 horas da tarde, por Arlindo Piauí, que era guia formado (homem de confiança do Exército); que Osvaldão quando foi alvejado estava de costas, comendo macaxeira sentado num tronco caído; que Osvaldão estava muito magro e com fome; que Osvaldão foi atingido com um tiro só de uma 12; que o Exército levou o corpo de Osvaldão para Xambioá; que Osvaldão foi um dos últimos guerrilheiros a morrer na região, sendo após o declarante dispensado da função de guia; (...) que viu a Fátima, guerrilheira, baleada na coxa e perna, pois ela estava sendo carregada no lombo de um burro do Edite, que é casado com uma sobrinha do declarante, até a localidade de Bom Jesus; que segundo informações à época ela teria sido removida para Belém num helicóptero; que oferecido para reconhecimento do declarante as fotografias dos desaparecidos políticos da Guerrilha do Araguaia, reconheceu Osvaldão (Osvaldo Orlando da Costa), Sônia (Lúcia Maria de Souza)"."Sr. José Francisco Dionísio (...)que essas pessoas que mais vinham eram o Piauí, a Sônia, o Osvaldão e o José Carlos; (...); que os dois (Catingueiro e Arlindo Piauí) disseram que estavam presentes quando mataram o Osvaldão; (...)""Sr. Cícero Saraiva da Silva, conhecido por Generoso (...)que dos guerrilheiros, conheceu Flávio, Amauri, Zequinha e Osvaldo". 126 "Sr. Pedro Vicente Ferreira, conhecido por Pedro Zuza, (...) que dos guerrilheiros, o declarante conheceu Zé Ferreira, Mariadina, Tuca, Lia, Chica, João Goiano e Osvaldão, que conheceu como mariscador (caçador), e outros cujos nomes não se recorda; (...) que serviu de guia durante 2 meses na região do Embaubal; que o declarante voltava para a casa nos fins de semana e buscavam a turma do Osvaldão e já tinham matado o Amauri e o Zé Goiano; que a turma que estava com Osvaldão era Mariadina, Tuca, Chica, Lia e o filho do Seu Américo e outras pessoas; que os militares mostravam fotos dos guerrilheiros;(...) ""Francisca Pereira Feitosa, (...) que conheceu naquela época as pessoas de nomes Rosinha, Cristina e Osvaldo, que eram guerrilheiros, pessoas muito boas e que os ajudavam muito; (...) "."Sinésio Martins Ribeiro (...)que o tiroteio seguinte foi nos fundos do castanhal do Almir Moraes; que a equipe era outra e não a do depoente; não sabe informar quem era o comandante mas os guias eram Raimundinho e Arlindo Piauí; que ficou sabendo dos fatos pelo Raimundinho e Arlindo Piauí; que nesse dia o Raimundinho atirou e matou o Chicão; (...); que mais adiante encontraram o acampamento dos guerrilheiros; (...); que o dito acampamento fica para os lados do Igarapé do Cunha; (...); que mais adiante acharam uma alparcata de pneu do Osvaldão; (...) que a Valquíria contou aos militares que estava com o Osvaldão quando este foi morto; que a mesma perdeu a espingarda nesta vez, pois a mesma ficou enganchada num pau; que Arlindo Piauí contou para ele que Osvaldão estava afastado de um grupo de 4 ou 5 guerrilheiros pois ele estava colhendo mel; que ele seguiu o rastro e o Osvaldão estava voltando; que ele viu o boné do Osvaldo e ficou espreitando até que ele viu quem era e atirou; que um pouco atrás vinham os guerrilheiros que fugiram; que o depoente foi para o local assim que mataram o Osvaldo, para vigiar se aparecia alguém; que antes veio o helicóptero para buscar o Osvaldo; que tentaram içar o corpo do Osvaldo para o helicóptero e que o corpo caiu e dizem que quebrou as duas pernas; que ouviu dizer que houve festa na Base de Xambioá, com fogos; que o depoente não viu o corpo de Osvaldo; que o mesmo já estava enterrado; que provavelmente tenha sido enterrado em Xambioá, que o Osvaldo foi morto para os lados de Embaubal;(...)"."Pedro Ribeiro Alves, (...) conhecido como 'Pedro Galego', (...); que em outra oportunidade, na sede do acampamento do Exército em Xambioá-TO, o depoente presenciou um corpo envolto em uma lona verde, sem que pudesse ver seu corpo, e os militares disseram que era o corpo de Osvaldão; (...)". "Leontino Dias Costa (...) que naquela época [1968] morava com ele o menor Manoel Pereira Marinho, filho de sua irmã Maria Pereira Marinho, falecida em 1968; que, na época da Guerrilha do Araguaia, final de 1972, seu sobrinho, iludido, passou a caminhar com os guerrilheiros pela mata; que lembra que seu sobrinho andava com duas mulheres mas não soube informar os nomes delas; que o único guerrilheiro que conheceu foi o Osvaldão; (...)".

Texto do Dossiê dos mortos e desaparecidos políticos a partir de 1964, editado pelo governo de Pernambuco no governo Arraes